Hipocrisia e as Redes Sociais

        A origem da palavra hipocrisia está associada ao teatro. O ator no palco incorpora um personagem, imita falas e gestos de uma pessoa. Em outras palavras, o ator representa alguém. Logo, uma pessoa hipócrita é aquela que finge um sentimento ou um pensamento que não é genuíno. Ela representa algo como se a vida fosse um palco. Por mais que esse comportamento seja desprezível é muito comum o adotarmos em alguma situação da nossa vida. Somos hipócritas quando procuramos esconder fraquezas, limitações ou deficiências.

        Os fariseus, seita judaica da época de Jesus, são frequentemente associados à um comportamento hipócrita. Jesus os condenou diversas vezes:

Mateus 23. 2: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de intemperança.

Mateus 6. 5: E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. 

        Um hipócrita procura mostrar aquilo que não tem. Ele ostenta algo que deveria ser praticado em oculto. Ele procura seguir regras superficiais para compensar o fato de que não se dedica a conhecer profundamente a Deus e a si mesmo, no caso da hipocrisia religiosa. É fácil conhecer um hipócrita quando ele põe em evidência algo que fez, pois quem conhece a si próprio e reconhece a graça de Deus na sua vida não procura o tempo todo validar suas ações. Um crente genuíno não precisa “postar” a sua vida como se precisasse o tempo todo de uma avaliação positiva dos outros.

        Somos tentados a todo momento a pôr em evidência aquilo que fazemos e na era das redes sociais essa tentação é amplificada. Podemos até não sermos como os fariseus que fingiam explicitamente uma espiritualidade que não tinham, mas com certeza a imagem que transparecemos nas redes sociais está muito além da realidade. Nas redes sociais todos são missionários, leem a Bíblia todos os dias, são abnegados, estão prontos a fazer qualquer coisa pelo Reino de Deus. Não postamos os momentos em que deixamos nossos pensamentos e sentimentos pecaminosos dominarem o nosso comportamento; não postamos quando gritamos com nossas esposas, maridos ou nossos pais; não postamos “hoje eu não li a bíblia e não orei”; “não fui à Escola Dominical nesse trimestre” “não oro há alguns dias”. Nunca veremos esse tipo de mensagem no Instagram ou Facebook.

        É claro que esse não é um chamado para abandonarmos as redes sociais, porque isso não resolve nada. A hipocrisia nasceu no Jardim do Éden quando não existia Twitter e Facebook. Porém, é um chamado para refletirmos sobre nossa condição espiritual e nosso desespero pela aceitação dos outros. Um chamado para deixarmos de sermos medíocres. Medíocre é a pessoa que se contenta em ser mediana. Um crente medíocre é aquele que se contenta em obedecer regras e não trata das questões profundas do seu ser. Um hipócrita religioso adora proibições: “Não pode fazer isso, não pode fazer aquilo”. Como se o problema fosse a atividade proibida e não o seu coração pecaminoso. Um crente que não trata seu coração pecaminoso contamina tudo o que toca, nada é lícito naquilo que ele faz, pois em tudo aquilo que ele faz está impressa a marca do seu coração corrupto. Um crente que luta contra seus sentimentos pecaminosos sabe filtrar tudo o que promove a sua espiritualidade.

        Os hipócritas geralmente gozam de boa fama entre as pessoas, porque eles sempre fazem o que é “politicamente correto”. Eles são extremamente preocupados em não cometer deslizes. Seus discursos são carregados de termos que aparentam espiritualidade. No entanto, vale ressaltar que nosso coração é tão pecaminoso que podemos até mesmo nos “esconder” e não colocarmos em evidência nossas ações, mas ainda assim será uma atitude hipócrita. Dessa forma, encobrindo um caráter covarde, a vergonha em demonstrar publicamente sua fé. Só nos resta reconhecermos que podemos ser hipócritas em diversos momentos das nossas vidas, analisarmos se nossas ações não estão controlando nossas intenções e clamar a Deus por sua misericórdia. 

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