Uma Teologia da "lacração"

        O termo “lacração” surgiu em 2013 através de uma YouTuber e desde então é usado como mecanismo de retórica nos “debates” nas redes sociais. “Lacrar” é basicamente deixar o outro sem reação em uma discussão; falar algo que aparentemente é incontestável. O objetivo é deixar o outro humilhado diante do conhecimento do seu oponente. Na verdade essas declarações “lacradoras” geralmente carecem de uma fundamentação consistente e são reducionistas.

         Esse comportamento é tão recorrente que já está naturalizado. As pessoas procuram o tempo todo serem vistas como mais inteligentes, superiores e felizes do que suas “inimigas”. O objetivo é deixar o outro “a seus pés”. É evidente que esse comportamento é completamente anticristão e que é fruto do egoísmo da natureza humana. Nada mais incoerente do que um crente “lacrando” ou “mitando” nas redes sociais. É claro que podemos desenvolver uma argumentação que deixe o nosso interlocutor sem resposta ou hesitante. Porém, o que não podemos fazer é reproduzir esse comportamento “lacrador” que tem como essência a humilhação do outro, a supervalorizacão do nosso ego. Vejamos o que a Bíblia diz sobre isso.

Provérbios 15. 1. A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.

    Em outras palavras esse versículo está dizendo que devemos responder com gentileza quem nos aborda com arrogância ou ira. Uma discussão acalorada é como uma fogueira, se você responde da mesma forma do seu interlocutor você está alimentado essa fogueira, do contrário, quando você adota um comportamento antagônico do seu interlocutor o efeito é semelhante à água fria ao ser jogada na fogueira.

Provérbios 25. 15. Pela longanimidade se persuade o príncipe, e a língua branda amolece até os ossos.

     A Bíblia ensina aqui uma técnica de persuasão bastante eficaz. Veja que paradoxo: a paciência e não o discurso efusivo persuade o príncipe, a linguagem branda ou gentil e não a linguagem hostil amolece ou esmaga os ossos.

        “Lacrar” é não deixar o outro sem resposta à altura. A Bíblia, no entanto, ensina-nos a ser pacificadores. Se para promover a harmonia nos relacionamentos for preciso sofrer prejuízo, que soframos.

1 Coríntios 6. 7. Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?

Romanos 12. 18. Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.

  O cristão deve ser comedido no falar. Deve ser conhecido por sua gentileza no trato com as pessoas. Isso de forma alguma deve ser confundido com fraqueza ou que devemos nos omitir de falar a verdade. Não é porque temos a razão em um assunto que vamos defendê-lo a todo custo e pondo em evidência a nossa suposta superioridade. Se a essência da “lacração” é responder na “mesma moeda”, o crente deve imitar Jesus que se comportava exatamente de forma oposta aos seus inimigos.

1 Pedro 2. 22: O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. 23. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente.

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