A centralidade da cruz

              Não existe uma família sem afeto; não existe um país sem um território; não existe sociedade sem leis; não existe democracia sem discórdias. Enfim, em qualquer instituição ou movimento social existe um ponto central onde toda a essência da organização é moldada. O evangelho não é diferente, não existe evangelho sem cruz.

             O apóstolo Paulo argumenta em favor da centralidade da cruz "Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus." (1 Co 1.18). Não é todo mundo que aceita a mensagem da cruz, para muitos isso é loucura. Paulo apresenta dois grupos de pessoas neste versículo: os que perecem e por isso para eles a mensagem da cruz é loucura e os que são salvos para quem a mensagem da cruz é o poder de Deus. Um evangelho sem cruz não tem sentido. A origem da palavra evangelho tem o sentido de boas novas e essas boas novas nada mais são do que o sacrifício de Cristo na cruz e a implicação disso para a nossa salvação. Jesus disse: "E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim" (Mt 10.38). Uma condição essencial para seguir a Jesus é tomar a nossa cruz. Fomos sacrificados com Cristo: "Já estou sacrificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim." (Gl 2.20). Paulo considera que sua vida também foi crucificada na cruz, portanto ele não vive mais, Cristo vive nele. 

               As implicações da afirmação de Paulo são enormes. Se eu não vivo mais, eu não tenho mais vontade própria; não tenho mais direitos; não posso reclamar de algo que não me pertence. Essa ideia é muito diferente da teologia da prosperidade que prega os "direitos" dos crentes sobre a benção de Deus. Quando fomos sacrificados com Cristo recebemos um selo não para que com este selo possamos adquirir direitos, mas para que este selo representasse a propriedade de Deus em nossa vida e essa propriedade é exclusiva, não existe nenhum aspecto de nossa vida onde Deus não seja o proprietário. Quem já viu um escravo impor sua vontade ao dono? questionar a ordem do dono? reclamar do tratamento do dono? nenhum escravo teria a ousadia de se comportar assim. Quanto mais devemos ser submissos ao nosso Senhor que merece a nossa submissão por sua misericórdia e por ter nos comprado por bom preço. Jesus carregou sua cruz sem murmuração, como ovelha muda foi levado ao matadouro, não "exigiu" o fim do seu sofrimento, cumpriu integralmente a ordem que lhe foi dada.

             Evangelho sem cruz é um contrassenso. A cruz de Cristo é o alicerce onde se funda a nossa fé, salvação e filiação com Deus. A cruz de Cristo nos lembra que temos um dono que nos comprou quando não tínhamos valor e que tem a propriedade da nossa vida.

               

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