A ironia do profeta Amós e o culto contemporâneo

          O culto israelita na época do profeta Amós tinha se tornado completamente superficial. O relacionamento profundo com Deus tinha sido substituído por rituais destituídos de significado. Hoje, a igreja tem substituído o relacionamento com Deus por entretenimento e práticas ritualísticas sem fundamento bíblico.

               O profeta Amós ao repreender os israelitas foi bastante irônico "Vinde a Betel e transgredi e a Gilgal e multiplicai as vossas transgressões" (Am 4.4). Ironicamente o profeta convida o povo a transgredir porque era só isso o que eles sabiam fazer. Betel e Gilgal eram importantes locais de culto em Israel, inclusive o profeta Samuel julgou nessas cidades "De ano em ano rodeava por Betel, Gilgal e Mispa, julgando Israel em todos os lugares." (1 Sm 7.16). Betel também foi palco de um culto idólatra implantado pelo rei Jeroboão "Semelhantemente fez em Betel, sacrificando aos bezerros que tinha feito; também em Betel estabeleceu os sacerdotes dos altos que fizera." (1 Rs 12.32). Em seguida Amós destaca a hipocrisia dos israelitas ao se apegarem aos rituais e não a um relacionamento correto com Deus "E, cada manhã, trazei o vossos sacrifícios e, de três em três dias, os vossos dízimos;" O culto israelita era uma mera religiosidade, somente um formalismo estéril. Amós também destaca a desobediência dos israelitas ao sacrificarem sacrifícios levedados "E oferecei sacrifícios do que é levedado". O sacrifício levedado ou fermentado era terminantemente proibido pela lei de Moisés "Nenhuma oferta de manjares, que fizerdes ao Senhor, se fará com fermento; Porque de nenhum fermento e de mel nenhum queimareis por oferta ao Senhor." (Lv 2.11). Os israelitas também gostavam de publicar as suas ofertas voluntárias para se autopromoverem "e apregoai ofertas voluntárias e publicai-as, porque disso gostais, ó filhos de Israel, disse o Senhor Deus." 

               O culto contemporâneo se assemelha bastante com o culto combatido por Amós. O pecado tem se tornado tão banal que a mesma ironia empregada pelo profeta pode ser utilizada hoje. A substituição de um relacionamento correto com Deus por uma religiosidade sem frutos também é recorrente. Participar da ceia do Senhor, vestir uma roupa adequada ao padrões do gosto dos outros, ser presbítero de uma denominação. cantar em uma banda ou orquestra não implica um relacionamento profundo com Deus pode ser apenas mera religiosidade. Em Israel o povo trazia sacrifícios fermentados. O fermento era símbolo do pecado e do mundanismo. Práticas mundanas tem sido implementadas no culto contemporâneo para entreter o povo. A genuína pregação tem sido substituída por apresentações de show de talentos, concursos de danças e outras bizarrices. É a oferta levedada atual. Os cultos viraram espetáculos teatrais onde pessoas supostamente endemoninhadas conversam com o pastor com a maior naturalidade para satisfazer o público sedento por emoções. As curas raramente são autênticas, se tornaram instrumentos para autopromoção do pregador. A salvação de almas e as curas se tornaram estatísticas para o currículo do pregador. "Porque disso gostais", a repreensão de Amós é válida para hoje, esse tipo de culto atrai o crentes, o povo gosta de movimento.

              O culto é um serviço oferecido a Deus, quando a centralidade do culto passa a ser o homem deixa de ser culto para se tornar um espetáculo humano qualquer.

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