A verdadeira espiritualidade

                    Em Lucas 10.20 Jesus estabelece um princípio importante: não devemos nos alegrar por realizarmos obras miraculosas ou obter dons extraordinários, mas procurar viver de forma que o nosso nome esteja escrito no livro da vida. A verdadeira espiritualidade não está associada a algo metafísico, sobrenatural. O evangelho se manifesta na prática, no concreto, no dia-a-dia.

              É quase inevitável não classificarmos alguém como espiritual porque ele exerce dons magníficos, cura enfermos, prega com eloquência, ora 12 horas por dia. Porém, a bíblia não sugere em lugar algum que a espiritualidade está associada a isso. A espiritualidade se manifesta na fila de um banco, no bate-papo em uma calçada, em uma sala de aula, no trânsito. Ela se manifesta no dia-a-dia. Não é algo que necessite de um superpoder ou um ambiente celestial para se manifestar. Se o evangelho se resume a pulos e gritos dentro de uma igreja estamos longe do ideal de Cristo. Parece que não temos mais pessoas que nos sirvam de referência moral, que nos incentive a ter um caráter cristão. Procuramos nos espelhar em pessoas que tem uma "super unção" para conseguirmos o "poder" que ela tem e isso é ridículo. Não me impressiona alguém que fala línguas estranhas, profetiza, repete frases de efeito na pregação. Me impressiona alguém compassivo, perdoador, abnegado, imune a "egolatria" comum hoje em dia. Não adianta atingir altos níveis de "intimidade" com Deus e não ter intimidade com sua esposa e filhos. A espiritualidade não é evidenciada no púlpito, mas na mesa de jantar com seus filhos e esposa. Hoje há muitos métodos para se atingir um plano espiritual elevado: Dê glória a Deus! Ore 10 horas por dia! Não fique com a boca fechada! Por outro lado há pouca instrução em como viver no dia-a-dia, como evidenciar nossa transformação de vida em situações corriqueiras.

               O impacto da verdadeira espiritualidade na vida do descrente não se compara com o impacto que pensamos ter ao manifestar operações sobrenaturais em nossos cultos. Imagine você como crente devolvendo ao atendente um troco errado dado em excesso. Uma situação banal, mas que irá impactar aquele que não conhece o evangelho. Porque alguém devolveria um troco dado em excesso? no mínimo ele verá que os cristãos são diferentes. Imagine agora alguém em um culto profetizando e algum descrente veja. No outro dia no trabalho o mesmo crente profeta trata de forma grosseira um empregado seu. Qual comportamento causará mais impacto na vida do descrente? Os dons espirituais são instrumentos dados a igreja para que ela dê testemunho de Cristo. Os dons espirituais são um meio, não o fim. A finalidade da igreja não é mostrar que ela é uma entidade sobrenatural que ninguém pode alcançar, ao contrário a igreja é o corpo de Cristo que se despiu da sua glória para assumir nossa condição indigna. A igreja deve atrair, não afastar. A igreja deve ir de encontro ao pecadores, não repudiá-los. O assunto que mais sobressai nas epístolas de Paulo não são técnicas para se obter "poder", porém são instruções em como viver no nosso cotidiano, como conviver com nossos semelhantes. Os dons espirituais devem ser exercidos em um contexto em que fique claro que eles servem como instrumentos de manifestação do amor cristão e não como propaganda de homens.

                   Esse artigo não é um manifesto contra os dons espirituais, mas uma defesa da verdadeira espiritualidade manifestada não em eventos extraordinários, mas nas situações banais da vida onde Jesus deve aparecer em nossas atitudes.  

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