O dom de profecia hoje e o oráculo de Delfos

                O dom de profecia é contemporâneo ou já cessou? Essa discussão divide grande parte dos evangélicos. Porém, uma coisa todos concordam: O dom de profecia está banalizado. Muitas "profecias" proferidas nas igrejas são resultado de arrogância ou emocionalismo. Existe o perigo de sermos guiados por essas "profecias" em substituição a bíblia. Na mitologia grega existia um personagem famoso chamado: o oráculo de Delfos. Delfos era a cidade onde esse personagem estava localizado. Um templo foi construído para abrigá-lo e foi dedicado ao deus Apolo. Neste templo as sacerdotisas do deus apolo entravam em uma espécie de êxtase e proferiam profecias. O que elas diziam eram consideradas verdades absolutas. Muitas pessoas iam até Delfos para perguntar detalhes sobre sua vida ou sobre o futuro e o oráculo respondia.

                 Porém, essas profecias tinham uma característica peculiar: eram extremamente ambíguas. Era necessário um sacerdote para poder interpretá-las. As profecias poderiam comportar diversos significados, ao ponto de a pessoa que fosse buscar orientação saísse mais confusa. O resultado prático das profecias do oráculo de Delfos era que ele simplesmente nunca errava. Se houvesse um aparente erro a culpa era do intérprete não do oráculo. Por exemplo: o oráculo poderia dizer "Eu vejo uma grande colheita na sua vida". A pessoa saía feliz do templo afinal era uma profecia boa, colheita significa bençãos. No entanto, depois de alguns dias vários familiares da pessoa morrem. A "colheita" na verdade significava morte.  A pessoa fica indignada "o oráculo errou". O oráculo, porém, dizia que não, a pessoa é que não soube interpretar, ou seja, o oráculo nunca errava.

                 Impossível não estabelecer uma relação desse personagem da mitologia grega com grande parte das profecias de hoje. As "profecias" hoje são muito ambíguas. Podem ter diversos sentidos. O perigo disso é que o dito "profeta" nunca erra. A consequência é que a profecia dele nunca pode ser julgada, porque sempre será um erro do intérprete e nunca do "profeta". Por exemplo: "Deus está me dizendo que vai te promover". O irmão vai para casa feliz "vou ser promovido no emprego". Uma semana depois o irmão morre. "O profeta errou". O profeta então responde: " não errei, ele é que não interpretou direito. Ele foi promovido, afinal ir para o céu é ou não é uma promoção?" Ou seja, o profeta nunca erra, sua profecia nunca poderá ser julgada. 

                  A verdade é que esses falsos profetas jogam suas palavras "ao ar", no dia que colar, colou. Não vejo na bíblia profecias com diversos sentidos. Elas eram claras, precisas.  "E levantando-se um deles, de nome Ágabo, dava a entender pelo espírito, que haveria uma grande fome por todo o mundo, a qual ocorreu no tempo de Cláudio. E os discípulos resolveram mandar, cada um conforme suas posses, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia;" (At 11.28,29). Essa profecia foi clara, precisa. A fome que ia acontecer era fome de "comer". Tanto que os irmãos enviaram ajuda aos irmãos da Judéia. Imagine se essa profecia não se cumpre e ao invés de fome houvesse fartura. O profeta não poderia desconversar "não, eu estava falando de fome espiritual". Não havia espaço para dupla interpretação. Assim, o profeta poderia ser julgado se errasse. Recomendo a leitura das demais profecias bíblicas e percebam como eram claras, precisas.

             "Profecias" com duplo sentido é um perigo na igreja hoje. Nos impede de avaliarmos se o profeta está mesmo sendo usado por Deus ou não. Não há como avaliar se ele errou ou não porque ele nunca erra. Sempre será um problema do intérprete.

                   

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